E o povo aplaudia. Aplaudiam de forma esplendorosa; gritavam e berravam: marginal bom é marginal morto. Marginal: uma palavra a mais que não sabem seu verdadeiro significado.
O mundo globalizado não deixa espaço para os menos favorecidos. “Dane-se tudo e todos! O mais importante sou eu, meu bem estar, minha felicidade! Dane-se aquele que não tem o que comer, dane-se aquele que não tem uma família, dane-se, dane-se, DANE-SE! Porque ninguém nesse mundo faz algo por mim”. Tenho medo que esse argumento se espalhe ao redor de nossas vilas, cidades, estados, países, enfim, o Mundo. Mentes perigosas.
Fora uma criança feliz, obedecia tudo o que seus pais mandavam. Como qualquer um, tinha seus sonhos infantis: mandava cartas para o Papai Noel, pedia ovos para o coelhinho da páscoa, escondia seu dente debaixo do travesseiro para a Fada dos dentes dar uma moeda... Até que se deparou com uma imagem chocante: seu pai fora morto por um ataque fulminante no coração.
A família ficara totalmente desestruturada, principalmente sua mãe. Viam-se nascer demasiados fios de cabelo branco em meio a uma bela cabeleira negra; desesperada, deixou-se perder em um estado de fúria: pegou uma máquina e raspou o que lhe restava de belo. Seus olhos viviam afundados em uma enorme olheira. Entregou-se ao álcool, e assim, gastou os poucos reais herdados do marido num bar da esquina da casa. O fundo do poço era sua companhia, seu solitário amigo.
A fartura que se preenchia à mesa da casa transformou-se em singelos pedaços de pão, mortadela e uma garrafa de leite. O menino via que alguma coisa estava errada, por isso acolhia a mãe como se fosse seu responsável . E, diante de um ataque esquizofrênico da mãe, prometeu que faria de tudo para vê-la feliz.
Estava indo em direção ao colégio, único lugar onde poderia encontrar um pouco mais de tranqüilidade. Mas, aquele dia seria diferente, pois um alguém estava na porta, um alguém que poderia mudar todo o rumo de sua vida.